Pesquisa inédita obtida pelo ‘Estado’ mostra que opiniões da população do País sobre os Jogos do Rio são ambíguas
Para os brasileiros, Olimpíada é um “desperdício que deu
certo”. A ambiguidade da população em relação à Rio 2016 é a principal
conclusão de pesquisa nacional do Ibope, que o Estado publica
com exclusividade. Para 62%, os Jogos Olímpicos trazem mais prejuízos
do que benefícios ao Brasil. Ao mesmo tempo, 57% creem que a imagem do
País no exterior ficará mais positiva. A completar as contradições,
“desperdício” e “esperança” são os dois principais sentimentos que os
Jogos despertam.
A divisão também é explicitada na avaliação que a população faz
da Rio-2016 até agora. Para 42%, a Olimpíada está sendo boa ou ótima.
Outros 30% dizem que é “regular”. E 24% avaliam que é “ruim” ou
“péssima”. Em resumo, está dando mais certo do que errado. Essa opinião
reflete mais a organização do que os resultados esportivos: 62% disseram
ao Ibope que é mais importante que o evento seja um sucesso – enquanto
31% preferem que o Brasil fique bem colocado no quadro de medalhas.
Se não há convergência da opinião pública sobre os efeitos
para o País como um todo, a divisão se inverte quando se pede aos
entrevistados para eles avaliarem os efeitos dos Jogos para a cidade
sede: 54% enxergam mais benefícios do que prejuízos. E essa opinião
favorável é mais forte no Norte e Nordeste do que no Sudeste, por
exemplo.
CEO do Ibope Inteligência, Marcia Cavallari tem uma hipótese
sobre a ambiguidade da opinião pública: “As opiniões são ambíguas porque
não se percebe claramente os benefícios que o País pode vir a ter com
eventos dessa magnitude”. Para a pesquisadora, a recessão também explica
contradições. “Há uma maioria que apoia, mas há dúvidas sobre o uso do
dinheiro público em eventos desta natureza quando há tantas outras
prioridades, principalmente considerando a crise econômica.”
DOIS GRUPOS
O Ibope cruzou as respostas de todos os entrevistados às seis perguntas
sobre Olimpíada e encontrou dois grupos bem distintos. A análise de
cluster junta ou separa pessoas em função das semelhanças e diferenças
de suas opiniões. No grupo majoritário estão 58% dos brasileiros. Eles
são mais propensos a crer no sucesso do evento, na projeção de uma
imagem positiva do Brasil no exterior e mais inclinados a verem
benefícios ao País (embora também vejam prejuízos).
O minoritário, com 42%, ao contrário, vê muito mais prejuízo,
acha que a imagem externa do Brasil vai piorar e faz uma avaliação mais
negativa do que positiva da Olimpíada até agora.
O grupo mais favorável à Olimpíada no Brasil tem presença mais
forte no Nordeste, é mais católico e, quando pensa nos Jogos, tem
sentimentos preponderantes como “esperança”, “alegria”, “orgulho” e
“otimismo”. Para 70% deles, a Rio-2016 está sendo ótima ou boa, para 83%
a imagem no Brasil no exterior vai melhorar após o evento e 53%
acreditam que o País terá mais benefícios do que prejuízos com a
organização dos Jogos.
Já os críticos são ligeiramente mais jovens do que a média, estão
concentrados no Sudeste e no Sul do País, e se referem aos Jogos com
expressões como “desperdício”, “vergonha”, “decepção” preocupação” e
“desgosto”. Na maioria (53%), acham que a Rio-2016 está sendo ruim ou
péssima. 61% deles afirmam que o Brasil vai sair com a imagem pior do
que entrou na Olimpíada. A maior diferença, porém, é que 100% avaliam
que a realização dos Jogos traz mais prejuízos do que benefícios para o
País. NUANCES
Os grupos não são monolíticos. Mesmo entre os “otimistas”, um terço acha
que os prejuízos superam benefícios. E um quarto dos “críticos”
acredita que, apesar dos pesares, a imagem do País no exterior vai
melhorar.
Nisso, a Olimpíada é muito diferente da Copa do Mundo. O grupo do
“Não vai ter Copa” ia à rua gritar e protestar. Dois anos depois,
ninguém vê demonstrações de “Não vai ter Olimpíada” – talvez porque a
mobilização do público por conta da política partidária seja menor hoje.
Ou talvez porque tiro, judô, vela e mesmo o vôlei despertem menos
paixão em menos gente.
A pesquisa foi feita entre 11 e 15 de agosto, em 142 municípios
de todas as regiões do Brasil. Foram 2.002 entrevistas face a face, com
pessoas de 16 anos ou mais. A margem de erro é de dois pontos
porcentuais, para mais ou para menos, em um intervalo de confiança de
95%. * COLABOROU RODRIGO BURGARELLI
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